quarta-feira, 9 de março de 2011

É isso mesmo...

É isso mesmo. A crônica é um gênero “fluido e traiçoeiro”, bem pós-moderno, eu diria, pois vivemos em um tempo em que definições e classificações são perturbadoras, de tão imprecisas. A liberdade que se tem ao escrever uma crônica é enorme, e o produto final tem sempre muito a ver com quem a escreve: se jornalista, mais próxima ao jornalismo; se prosador, mais próxima à prosa de ficção; se poeta, mais próxima à poesia; se viajante, mais próxima ao relato de viagem; e assim vai.
Recentemente, ao receber um desses tablóides entregues nos cruzamentos de São Paulo, fiquei surpresa e incomodada com uma cronista – que nem de São Paulo é, mas dava sua opinião sobre esta nossa capital paulistana. Num português sofrível, ela falava de sua visão de carioca ao passear pelas ruas de nossa metrópole patchwork, nas palavras do crítico italiano Maximo Cavenacci. Era uma crônica muito gostosa de ser lida, embora eu tivesse que tropeçar em “discordâncias” verbais (e não em concordâncias) e em vírgulas excedentes, como quem tropeça nas calçadas mal conservadas da cidade, mas que, mesmo assim, não nos tiram o nosso amor bairrista.
Cheguei a escrever uma carta à redação, solicitando um cuidado maior com a revisão de texto, mas desisti. Desisti talvez pela liberdade que a crônica tem; desisti em nome da leitura fluida e casual que esse gênero nos proporciona. Mas ainda acho que se o português estiver bem empregado, com belas rupturas de estilo, a crônica fica melhor e mais próxima da literatura.

Texto originalmente escrito para o Digestivo Cultural, em 13/10/2007

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